Cheguei em Aracaju e fui logo apresentada a uma das mais deliciosas bebidas brasileiras: a cajuína sergipana de Lena, mãe de Pedro, filho de Edmar, casado com Carol e amigo de infância da vizinha Mary, mãe de Sashi e Dami, que conhecem Luana e Mércia, que ficaram me cutucando pra voltar a Sergipe dez anos depois da minha primeira vez.
Cajuína é a inacreditável água do suco do caju, que está em plena temporada nos campos de areia em torno. Filtrado várias vezes, torna-se um líquido cristalino incolor; só depois de engarrafado e esterilizado é que ganha o tradicional tom amarelo. Resisti o quanto pude, com medo de ser muito doce, de não gostar, de me deixar sonolenta, e só tomei no último dia antes de vir embora. Ô tempo perdido. Amei a cajuína. Que é patrimônio imaterial de Teresina, e que certa vez comprei porque Bela Gil vinha aqui, e ela não tomou mas disse que o pai toma um copo todo dia. Existirmos será que se destina a provar e amar a cajuína?
Lá pelas tantas surgiu a conversa do coentro. Porque sou de São Paulo, e paulistas são conhecidos por odiar coentro. Confessei logo: na primeira vez que comi não comi, queria morrer. Na segunda vez já fazia macrobiótica, rolou uma sopa de aipim com coentro e comi com certa surpresa, mas também com vontade de gostar, pois se era macrô era bom. E achei mesmo bom.
– Entre salsa e coentro, me perguntaram lá, qual você escolhe?
Os dois, respondi.
Deve ter sido aí que Pedro resolveu me dar um vaso de brotos de coentro, revolucionando para sempre minha concepção de horta.
O vaso é um garrafão pet cortado, de boca pra baixo. A terra ainda não se formou totalmente – folhas e resíduos vegetais diversos, que com o tempo viram terra, aparecem nitidamente através do plástico. Sementes foram espalhadas por cima e ao brotar formaram a florestinha de coentro.
Ele é valorizado em boa parte do mundo por favorecer a digestão, acalmar a mente/coração e reduzir dores articulares. Tanto a folha quanto a semente têm essas propriedades, mas com sabores completamente diferentes: o da semente mais suave e discreto, com um leve perfume agradável, e o da folha bem forte e marcante, característico. É o tipo de plantinha que serve muito para ajudar a manter a saúde do sistema digestivo e o corpo livre de parasitas. Digamos que contribui para a higiene. Aquela essencial.
Fiquei lá sete dias que valeram por um mês. Vou contando aos poucos. Certas viagens a gente degusta mais ainda quando lembra.
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