... Aí já vamos encontrar outra pessoa participando de escutas e escolhas: a Fátima, Maria de Fátima Barbosa, revisora e comadre literária desde meu terceiro livro, parteira desses filhos. Quantos hífens na nossa amizade. Vírgulas roubadas de parte a parte, acentos desnecessários, tremas imprevistos, concordâncias suspeitas, um olhar que o leitor jamais percebe se o trabalho for bem feito. Fora o capítulo de dúvidas, inseguranças, desabafos. E que sufoco revisar os índices, hem, Fátima?... *
Eu sentia que tinha feito de fato um livro novo quando ele passava às mãos dela para a primeira leitura, primeira revisão de texto, os defeitos todos de fora. Sabia a quem estava entregando meu filho, meus pontos sensíveis, minhas brincadeiras. Ela corrigia, comentava, interrogava, sugeria, com carinho e delicadeza, sabendo lidar, alegre, animada. E tínhamos altas conversas sobre todos os outros assuntos da vida, em contato constante por 27 anos, reciprocando apoio em inúmeras ocasiões.
Foi-se ontem minha amiga, precocemente, aos 54 anos. Sei que muitos, como eu, têm agora os olhos marejados o tempo todo, com uma saudade intensa e um amor enorme. Ambos ficarão.
* Crédito publicado no livro O mínimo para v. se sentir o máximo, em 1993.
De luto por Fátima Barbosa
posted 2021 Jul by
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