Sem tempero, não dá. Não dá e já não deu há muito tempo, tanto que quase todo mundo põe alho e louro no feijão, quiçá pimenta; alho e cebola no arroz, talvez tomate, minha mãe, louro; e assim orégano na pizza, pimenta no acarajé, coentro no peixe, cravo no doce, canela na banana, limão na salada. Por quê? Porque é bom.
Bom na hora em que cheira, já fazendo salivar de gosto e abrindo perspectivas deliciosas para dali a pouco. Bom dentro da boca, estimulando o apetite com mais suco gástrico. Bom depois de comer, o corpo leve e a alma tranquila: pode-se repetir aquele prazer sem dor.
Os temperos, ou condimentos, ou especiarias, caracterizam-se por algum sabor ou aroma especial da planta que é atraente para nós e repelente para outros animais e insetos. Podem ser sementes, como erva-doce, cominho, mostarda, cardamomo; folhas frescas ou secas, como manjericão, alecrim, tomilho, salsa; bulbos, como alho e cebola; frutas, como limão, manga, laranja, romã; cascas, como canela; rizomas, como gengibre; partes da flor, como cravo e açafrão. O segredo é não usar em excesso. E não usar mal: o alho, por exemplo, nunca deveria ser dourado – perde o efeito benéfico e dá bafo.
Pelo menos 40 temperos têm grande presença no mercado internacional. Outros 100 têm uso mais regional, sozinhos ou em misturas que dão sabor característico àquela culinária.
Sentir o verdadeiro sabor de curry, por exemplo, é privilégio dos que vão ao sul da Índia, ao sul da África, à Malaísia ou ao Sri Lanka. Ele vem das folhas frescas de uma árvore nativa, a Karivepallai or Kadipatta (Bergera koenigii), que os ingleses chamam de Curry tree. É leve e agradável e lembra um pouco a tangerina.
Já o que conhecemos por aqui como curry, aquele pó amarelo em latinhas ou pacotinhos made in India, tem um sabor meio padronizado que nos acostumamos a reconhecer como o tempero indiano por excelência, ou seja, curry. Só que na Índia existem mil receitas de curry. Que nem se chama curry, mas garam masala no norte da Índia e sambaar podi no sul.
Uma receita de curry em pó:
2 colheres (sopa) de sementes de coentro
1 de sementes de cominho
1 de sementes de cardamomo
1 de cúrcuma (açafrão-da-terra) em pó
2 colheres (chá) de páprica doce ou picante
1 de canela em pó
1 de cravo
Moer ou bem fino em máquina ou pilão, misturar e guardar em vidro tampado.
Ah, você tem uma receita de curry diferente? Tudo bem, não há regra: na Índia, cada família faz a mistura de um jeito, que também varia conforme o prato a ser preparado. O cominho e as sementes de coentro geralmente estão presentes. E não deve faltar cúrcuma, aquele pó amarelo-alaranjado que dá cor a qualquer coisa, do queijo cheddar à roupa dos monges, e é bom para a pele, protege o fígado, atua contra o câncer, realça o sabor da comida, ajuda a digestão das proteínas, promove a absorção e regula o metabolismo, além de ser antiinflamatório, antioxidante, calmante e protetor do sistema cardiovascular. Chega? Não: faltou dizer que é saboroso e perfumado.
Todos esses temperos evitam gases, que se formam quando o processo de digestão da comida não consegue dar conta de tudo o que se comeu. O que sobra vira muco, fermenta e forma bolhas de gás por todo o tubo digestivo, provocando ansiedade, falta de concentração, nervosismo, mal-estar, dores e até soluços, entre outras coisas. Caiu a ficha? Temperar é preciso. Comer, nem sempre.
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